[ESPECIAL - A HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO] - A Luta e a Persistência de Jules Rimet

O Blog do Teófilo apresenta hoje o segundo texto da Série Especial A História das Copas do Mundo. cuja reprodução não é permitida.

A Luta e a Persistência de Jules Rimet

Por Teófilo Benarrós de Mesquita

Após assumir interinamente a presidência da Fifa em 1918, Jules Rimet foi eleito para o cargo em 1º de março de 1921.

Advogado e fundador do time de futebol Red Star, de Paris, Rimet já havia sido presidente da Federação Francesa de Futebol.


Foi ele o primeiro presidente da Fifa a lutar para que o artigo 9º do Estatuto saísse do papel e virasse realidade, com o argumento que o futebol poderia reforçar os ideais por uma paz verdadeira e duradoura.

A excelente participação da Seleção do Uruguai no torneio de futebol das Olimpíadas de Paris, em 1924, e de Amsterdam, em 1928, quando conquistou por duas vezes a Medalha de Ouro, não deixava mais dúvidas - a oportunidade estava lançada.

Além do Uruguai, os Estados Unidos também haviam se destacado no torneio olímpico de 1924 e a final olímpica de 1928 foi entre Uruguai e Argentina, dois países sul-americanos.

Sem perder tempo, já em 1924, a Fifa designou o francês Henri Delaunay para encabeçar um comitê responsável em estudar a possibilidade de realizar uma Copa do Mundo entre seleções.

No Congresso da Fifa, em Amsterdam, em 26 de maio de 1928, ficou decidido que a Copa do Mundo seria realizada de 4 em 4 anos, nos anos pares entre as Olimpíadas, na forma que é disputada até os dias atuais.

Além de ser bicampeão olímpico, proeza que lhe valeu o apelido de Celeste Olímpica, o Uruguai tinha outro motivo para ser o favorito a sediar a primeira Copa do Mundo.

Ainda em 1925, o país já havia manifestado a Jules Rimet, o interesse em sediar a primeira Copa do Mundo, desde que ela fosse realizada em 1930, ano da comemoração do Centenário de sua primeira Constituição, depois de um período de mais de duzentos anos sob domínio espanhol.

Quando aconteceu um novo Congresso da Fifa, em 18 de maio de 1929, em Barcelona, na Espanha, seis países lançaram candidaturas à sede do Mundial de 1930 - Uruguai, Itália, Hungria, Holanda, Espanha e Suécia.

Mas, para quem pensava em um torneio mundial, nada mal seria a ideia de descentralizar a disputa do continente europeu.

Os uruguaios haviam prometido contruir um novo estádio, o Centenário de Montevidéu, e pagar todas as despesas de viagem e alimentação dos países participantes. É claro que ganhou a escolha para sediar a primeira Copa do Mundo!

Em contrapartida, o entusiasmo dos europeus esfriou, diante da realidade da longa viagem para o continente sul-americano, naquela época só possível por via marítima.

Empolgada, a Fifa enviou convite a todos os 46 países filiados, contando que pelo menos metade aceitaria tomar parte da histórica primeira Copa do Mundo.

Os 17 países europeus, porém, não demonstraram qualquer interesse quanto ao convite e a primeira Copa do Mundo passou a correr sérios riscos de esvaziamento...

Os britânicos - Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte - já não faziam mais parte da Fifa, por conta do avançado estágio de profissionalismo alcançado por suas federações.

Hungria, Áustria e Tchecoslováquia, também com federações profissionais, alegaram que seus clubes não poderiam ficar dois meses sem seus principais jogadores.

Outros países europeus alegaram a enorme distância até o Uruguai para justificar suas ausências.

Revoltados, dirigentes uruguaios ameaçaram não só cancelar o Mundial, mas também abandonar a Fifa.

Sentindo cada vez mais difícil e distante a realização do sonho de realizar uma competição universal de futebol, Jules Rimet começou a intervir. Primeiro em seu próprio país.

Na condição de presidente licenciado da Federação Francesa de Futebol, praticamente obrigou a França a confirmar sua participação na Copa do Mundo do Uruguai.

A Bélgica atendeu aos apelos de Rodolphe William, amigo pessoal de Rimet e não por acaso vice-presidente da Fifa, além de presidente da Federação Belga.

De trem, Rimet chegou a Bucareste, para uma audiência com o recem empossado Rei da Romênia, Carol II, de 37 anos, que quando ainda Princípe, havia sido Secretário Geral da Fifa.

Sem pressões nem pedidos especiais, a Iugoslávia decidiu aceitar o convite da Fifa, mandando ao Uruguai um time - o SK de Belgrado -, reforçado por alguns jogadores de outros clubes.

Em 1930 a Iugoslávia era um reino formado por Sérvia, Croácia, Eslovênia e outros territórios menores, governado pelo Princípe Regente Alexandre.

Aos 4 europeus (França, Bélgica, Romênia e Iugoslávia), se juntaram 7 seleções sul-americanas (Uruguai, Argentina, Brasil, Paraguai, Peru, Chile e Bolívia) e 2 da América Central (Estados Unidos e México).

Bem ou mal estava salva a primeira Copa do Mundo...

Na próxima postagem: Copa do Mundo do Uruguai - Um Mundial Atípico.

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