[DIÁRIO DE VIDA] - Nao existem dias dificeis!!!

Teofilo Benarros de Mesquita

Sao Paulo/SP - O dia 10 de maio de 2011 me provou, que `ainda se vier, noites traicoeiras...` nao existem dias dificeis. Tudo transcorria normal, acordamos, tomamos cafe, demos um tempo no apartamento, almocamos e nos deslocamos, cedo, para o AC Camargo. A Tomografia Computadorizada estava marcada para as 18h25.

Chegamos com antecedencia para cumprir o plano tracado. Deixei a Carla no hospital, aguardando o exame, e fui fazer o reconhecimento da area. Andei pela Tamandareh e pela Jose Getulio, que nada mais eh do que a extensao da Professor Antonio Prudente, logo apos o cruzamento com a Tamandareh.

Na porta de um edificio que continha a informacao "aluga-se quartos", peguei as informacoes e fui a um escritorio, 50 metros a frente. Gostei do que ouvi do corretor, tanto para aluguel de kitinetes como para aluguel de apartamento de dois quartos. So que os imoveis que ele trabalha estavam todos alugados, com a possibilidade de vacancia no dia 23 de maio.

Voltei para o hospital cheio de planos e de vontade de contar as novidades para a Carla. A Tomografia terminou por volta de 21 horas, pois nesta data a equipe enfrentou problemas nos equipamentos, o que ocasionou enorme atraso, para os pacientes.

Saimos e ela, com muita fome, em razao do preparo para o exame, que exigia jejum de quatro horas antes do horario do exame, pediu para comer no MacDonalds. Percorremos a curta distancia entre o hospital e o MacDonalds a pe. Porem, o estabelecimento, localizado na Vergueiro, no trecho universitario (sao dezenas de universidades funcionando no mesmo raio, de fazer inveja a Uninorte e a Joaquim Nabuco) estava lotado, o que nos forcou a buscar uma mesa no lugar de cima, dobrando o peh da escada.

Eu nao como em MacDonalds, portanto, desci para fazer o pedido da Carla: um bigmac e um milkshaike de chocolate. O antedimento foi super-rapido e pude reparar que, feito o pedido, o sanduiche jah estah adiantado, na esteira.

Voltei tao distraido que demorei um pouco a me dar conta do que estava acontecendo. Minha primeira visao foi de um amontoado de gente. Reconheci a Carla pela roupa, a calca. Me assustei quando contemplei-a por completo. Ela completamente torta e o terror estampado no rosto. Duas jovens estavam mais proximas, prestando os primeiros socorros. Uma, de nome Rosangela, aparentemente era a gerente do local. Outra, universitaria, nos disse que tem parente epiletico e pensou tratar-se de uma crise epiletica.

Rapidamente, o susto teve que dar lugar a razao. Pensei "controle-se, Teofilo". Minha primeira atitude foi chegar bem perto dela e conversar. Perguntei se ela estava bem e ela respondeu que sim, com a respiracao ofegente e ainda com o terror estampado no rosto.

Imediamente sugeri que ela controlasse a respiracao e disse que ficaria tudo bem, pois eu estava ali, ao seu lado. Funcionou e aos poucos ela foi perdendo a ofegancia e ficando com a expressao mais tranquila.

Procurei saber das pessoas ao lado o que tinha acontecido. Apurei as diversas informacoes e criei o quadro, depois confirmado por ela. Ela comecou a ter movimentos cadenciados e incrontolaveis com a perna esquerda, que foram ganhando ritmo. Depois, foi tombando suavemente para o seu lado esquerdo, amparando-se na mesa.

So depois dela ter conseguido se esparramar no chao eh que veio a convulsao. Ela me relatou que sentiu suas carnes retorcendo-se. O peh, ela sentiu como se fosse o Curupira (personagem lendario, que tem o peh ao contrario). Por isso o motivo do pavor em sua face.

Outro funcionario do MacDonalds, Cesar, aparentemente da Seguranca, mostrava uma preocupacao constante com o Samu e o Resgate que nao chegavam. De cinco em cinco minutos, ele ia la fora, na Vergueiro, e voltava, desolado, com a nao chegada da ambulancia.

Nesse interim, pedi que a Carla flexionasse todos os membros e tambem o quadril, me lembrando dos movimentos que ela fazia na Fisioterapia, ainda em Manaus. Estava tudo em ordem.

Passados 30 minutos de espera, e com a nao chegada das ambulancias, resolvemos tomar um taxi e voltar ao AC Camargo, nao tao longe. No primeiro impulso de tomar o taxi para o hospital, a Rosangela perguntou: "o senhor tem certeza que quer fazer isso?". Recuei, mas, com a demora (cerca de mais dez minutos apos o primeiro impulso), tive que decidir, agora sem qualquer vacilo. O Cesar trouxe o taxi ate o estacionamento e ajudou a conduzir a Carla ate o veiculo.

A Rosangela ficou o tempo inteiro (mais de 40 minutos) ao nosso lado, sempre segurando a mao da Carla e conversando com ela. Em determinada altura, com a melhora da Carla e a demora do socorro, falamos para a Ronsagela que ela jah podia voltar as suas atividades. Ela se negava a deixar-nos e soh voltou ao trabalho, depois que nos deixou no taxi.

No AC Camargo, o diagnostico foi que o remedio para controlar a convulsao, Hidantal, estava abaixo do nivel necessario e ela tomou uma dose agressiva, por volta de 1 hora da manha, jah da quarta-feira, dia 11, para controlar o ataque.

A partir das 3 horas, porem, a Carla comecou a apresentar uma confusao mental, com tematica familiar e religiosa (combinacao dos dois fatores), que perdura ateh este momento (sabado, 15 de maio de 2011, 14h de SP), agora com menos intensidade.

No hospital os surtos foram assustadores e constantes. Por volta de 6 horas da manha, confesso que eu ja nao aguentava mais escutar as baboseira sem nexo que a Carla falava. Implorei a ela: "Carla, pelo amor de Deus, pare de falar essas coisas". Ela devolveu, tipicamente dentro da confusao mental que vivia: "nao peca nada pelo amor de Deus...". Foi quando o papai chegou ao hospital, com sua atual companheira.

Aproveitei a presenca dos dois e vim no hotel, tomar um banho, trocar de roupa e pegar roupas para ela. Ela teve alta por volta das 12 horas e os medicos diziam que os delirios eram consequencia da alta dosagem recebida de Hidantal.

Conversando com o papai, surgiu a ideia de trazer alguem para ajudar, pois a convulsao, alem da confusao mental, tambem trouxe de volta a paralisia dos membros esquerdos.

Ao final do dia 11, quarta-feira, depois de muitas providencias, telefonemas e conversas via Facebook, estava tudo certo: Lene (esposa do meu irmao Tercio) e Janaina (irma da Carla), embarcariam de madrugada para Sao Paulo e, amanhecendo a quinta-feira, dia 12, jah estariam conosco.

A unica coisa que consegui pensar, ao final da quarta-feira, dia 11, era: NAO EXISTEM DIAS DIFICEIS!!!

Um beijo do tamanho do Amazonas a todos que estao conosco!
Teofilo e Carlinha

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