Teófilo Benarrós de Mesquita*
Era tarde do dia 5 de julho de 1982. Estavámos reunidos em casa, para ver mais um jogo do Brasil na Copa do Mundo da Espanha. A certeza do Tetracampeonato era unânime. Só o Jô Soares parecia discodar em todo o Brasil, criando um personagem que será sempre lembrado pelo inesquecível bordão: "bota ponta, Telê!". Com um pouco mais de esforço, alguns até se lembrarão do nome do personagem - Zé da Galera.
A Itália, adversária daquele dia, chegou na Espanha vivendo um ambiente conturbado, em razão do escândalo da Tottonero, jogo de apostas italiano. Na primeira fase empatou três partidas e só se classificou, acreditem, por ter marcado mais gols que Camarões, também com 3 empates. Na verdade, um golzinho a mais...
A Itália venceu em sua estréia na 2ª Fase, 2 a 1 contra a Argentina. Depois o Brasil venceu a mesma Argentina, Campeã do Mundo de 1978, por 3 a 1 e iria decidir a vaga para as semifinais contra os italianos. Não dava nem para disfarçar o favoritismo. Na fase anterior, apesar dos sustos, 3 vitórias contra União Soviética (2 a 1), Escócia (4 a 1) e Nova Zelândia (4 a 0), com shows de Zico, Socrátes, Falcão, Júnior e Éder.
Em meio à crise, os italianos se recusavam a dar entrevistas. Em meio à confiança, os brasileiros bailavam ao som de "Voa Canarinho", música símbolo daquela Seleção, interpretada pelo lateral-esquerdo Júnior.
Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Toninho Cerezzo, Falcão, Socrátes e Zico; Serginho e Éder. Sob o comando de Telê Santana, este era o escrete Canarinho, conhecido por todo o Brasil e agora pelos gramados espanhóis.
O Brasil jogava pelo empate, mas esteve sempre atrás no marcador. Itália 1 a 0, gol de Paolo Rossi, logo aos 5 minutos de jogo. Mas o Brasil era bom demais... E Socrátes confirmou tal tese aos 12 minutos empatando o jogo e garantindo (até ali) a classificação do Brasil. Teimosamente, a Itália passou à frente de novo. De novo Paolo Rossi, aos 25 minutos. Fim do primeiro tempo e um certo ar de perplexidade no ar. Poderia o Brasil ser derrotado pela Itália?
A resposta viria nos próximos 45 minutos. Depois de alguma angústia, Falcão deixou tudo igual novamente aos 23 minutos (foto acima). A imagem de Falcão na comemoração do gol (abaixo) é considerada até hoje como uma das mais emblemáticas e significativas no mundo do esporte. Pronto. Agora era só administrar o jogo nos próximos minutos.
Mas...
Paolo Rossi, de novo, aos 30 minutos, desafiou a lógica e colocou a Itália em vantagem de 3 a 2. Uma vantagem que se revelaria definitiva. Lembro (e acredito que todo o Brasil também) de uma cabeçada de Oscar, já no fim do jogo, bem defendida pelo experiente goleiro italiano Dino Zoff, 40 anos.
Rossi era um dos mais contestados pela imprensa italiana e depois dos 3 gols contra o Brasil ainda fez 2 na semifinal contra a Polônia (2 a 0 Itália) e 1 na final contra a Alemanha (3 a 1), consagrando-se como artilheiro da Copa da Espanha, com 6 gols marcados.
Tinha 12 anos e era o craque da rua. Sempre depois dos jogos íamos jogar bola e eu sonhava que estava nos gramados espanhóis. Parece que jogava enfeitaçado pela magia daquela Seleção. Menos naquela tarde de 5 de julho.
A única coisa que consigo me lembrar era de olhar para todos os lados e ver todos chorando... Homens, mulheres, jovens, crianças, velhos. Meu tio Afrânio (falecido em 2006) era a mais real imagem do sofrimento. Ele chorava como eu não vira alguém chorar antes. Muito marcante também foi a imagem de um menino brasileiro no estádio Sarriá, bandeira enrolada no mastro e soluço entalado na garganta, que acabou estampando a capa do Jornal da Tarde, de São Paulo, no dia seguinte.
Nunca mais o mundo do futebol viu uma seleção tão brilhante como a de 1982. O Tetra veio em 1994, burocraticamente. O Penta veio em 2002, sob o signo copeiro de Luis Felipe Scolari e um grupo fechado ainda nas Eliminatórias. Mas o brilho de 1982 não voltou. E dificilmente voltará!
E o Sarriá, palco de mais uma tragédia futebolística brasileira (tão marcante como o Maracanazo de 1950) foi demolido em 1998. Mas as lembranças de 5 de julho serão eternas...
* Este artigo foi por mim publicado originariamente no blog www.panoramaesportetv.blogspot. com, há cinco anos, mais precisamente no dia 5 de julho de 2007, quando eu ainda não tinha meu Blog.
Com cordiais
Saudações Fastianas!
Teófilo Benarrós de Mesquita
Era tarde do dia 5 de julho de 1982. Estavámos reunidos em casa, para ver mais um jogo do Brasil na Copa do Mundo da Espanha. A certeza do Tetracampeonato era unânime. Só o Jô Soares parecia discodar em todo o Brasil, criando um personagem que será sempre lembrado pelo inesquecível bordão: "bota ponta, Telê!". Com um pouco mais de esforço, alguns até se lembrarão do nome do personagem - Zé da Galera.
A Itália, adversária daquele dia, chegou na Espanha vivendo um ambiente conturbado, em razão do escândalo da Tottonero, jogo de apostas italiano. Na primeira fase empatou três partidas e só se classificou, acreditem, por ter marcado mais gols que Camarões, também com 3 empates. Na verdade, um golzinho a mais...
A Itália venceu em sua estréia na 2ª Fase, 2 a 1 contra a Argentina. Depois o Brasil venceu a mesma Argentina, Campeã do Mundo de 1978, por 3 a 1 e iria decidir a vaga para as semifinais contra os italianos. Não dava nem para disfarçar o favoritismo. Na fase anterior, apesar dos sustos, 3 vitórias contra União Soviética (2 a 1), Escócia (4 a 1) e Nova Zelândia (4 a 0), com shows de Zico, Socrátes, Falcão, Júnior e Éder.
Em meio à crise, os italianos se recusavam a dar entrevistas. Em meio à confiança, os brasileiros bailavam ao som de "Voa Canarinho", música símbolo daquela Seleção, interpretada pelo lateral-esquerdo Júnior.
Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Toninho Cerezzo, Falcão, Socrátes e Zico; Serginho e Éder. Sob o comando de Telê Santana, este era o escrete Canarinho, conhecido por todo o Brasil e agora pelos gramados espanhóis.
O Brasil jogava pelo empate, mas esteve sempre atrás no marcador. Itália 1 a 0, gol de Paolo Rossi, logo aos 5 minutos de jogo. Mas o Brasil era bom demais... E Socrátes confirmou tal tese aos 12 minutos empatando o jogo e garantindo (até ali) a classificação do Brasil. Teimosamente, a Itália passou à frente de novo. De novo Paolo Rossi, aos 25 minutos. Fim do primeiro tempo e um certo ar de perplexidade no ar. Poderia o Brasil ser derrotado pela Itália?
A resposta viria nos próximos 45 minutos. Depois de alguma angústia, Falcão deixou tudo igual novamente aos 23 minutos (foto acima). A imagem de Falcão na comemoração do gol (abaixo) é considerada até hoje como uma das mais emblemáticas e significativas no mundo do esporte. Pronto. Agora era só administrar o jogo nos próximos minutos.
Mas...
Paolo Rossi, de novo, aos 30 minutos, desafiou a lógica e colocou a Itália em vantagem de 3 a 2. Uma vantagem que se revelaria definitiva. Lembro (e acredito que todo o Brasil também) de uma cabeçada de Oscar, já no fim do jogo, bem defendida pelo experiente goleiro italiano Dino Zoff, 40 anos.
Rossi era um dos mais contestados pela imprensa italiana e depois dos 3 gols contra o Brasil ainda fez 2 na semifinal contra a Polônia (2 a 0 Itália) e 1 na final contra a Alemanha (3 a 1), consagrando-se como artilheiro da Copa da Espanha, com 6 gols marcados.
Tinha 12 anos e era o craque da rua. Sempre depois dos jogos íamos jogar bola e eu sonhava que estava nos gramados espanhóis. Parece que jogava enfeitaçado pela magia daquela Seleção. Menos naquela tarde de 5 de julho.
A única coisa que consigo me lembrar era de olhar para todos os lados e ver todos chorando... Homens, mulheres, jovens, crianças, velhos. Meu tio Afrânio (falecido em 2006) era a mais real imagem do sofrimento. Ele chorava como eu não vira alguém chorar antes. Muito marcante também foi a imagem de um menino brasileiro no estádio Sarriá, bandeira enrolada no mastro e soluço entalado na garganta, que acabou estampando a capa do Jornal da Tarde, de São Paulo, no dia seguinte.
Nunca mais o mundo do futebol viu uma seleção tão brilhante como a de 1982. O Tetra veio em 1994, burocraticamente. O Penta veio em 2002, sob o signo copeiro de Luis Felipe Scolari e um grupo fechado ainda nas Eliminatórias. Mas o brilho de 1982 não voltou. E dificilmente voltará!
E o Sarriá, palco de mais uma tragédia futebolística brasileira (tão marcante como o Maracanazo de 1950) foi demolido em 1998. Mas as lembranças de 5 de julho serão eternas...
* Este artigo foi por mim publicado originariamente no blog www.panoramaesportetv.blogspot. com, há cinco anos, mais precisamente no dia 5 de julho de 2007, quando eu ainda não tinha meu Blog.
Com cordiais
Saudações Fastianas!
Teófilo Benarrós de Mesquita
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