Wellton Máximo e Mariana Tokarnia
Foto: Marcello Casal Júnior
Agência Brasil de Comunicação
www.agenciabrasil.ebc.gov.br
Brasília/DF - Na Feira do Largo do Machado, na zona sul do Rio de Janeiro/RJ, o pagamento eletrônico não é unanimidade.
Com medo de taxas de maquininhas de cartão ou sem tempo para tirar o celular do bolso e abrir o aplicativo do PIX, há consumidores que ainda preferem pagar as compras com cédulas e moedas, apesar do avanço de meios eletrônicos de pagamento.
“Tenho usado muito [cartão de] débito e PIX, mas hoje terei de sacar dinheiro no banco. A mulher botou um real em cima dos limões que comprei porque o preço aumentou R$ 1 por causa da taxa de cartão”, diz a servidora pública Renata Moreira, 47 anos.
“Há lugares estratégicos em que vou com dinheiro, cédula. Às vezes, o PIX dá trabalho porque tem de tirar o telefone da bolsa [em lugares de risco] e tem de ter acesso à internet”, completa.
Segundo o BC (Banco Central), a circulação de papel-moeda persiste em 30 anos de criação do real.
Na última sexta-feira (28/06), conforme as estatísticas mais atualizadas da autoridade monetária, existiam R$ 347,331 bilhões de cédulas e de moedas em circulação na economia, o equivalente a 3,13% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país).
A proporção está diminuindo após a pandemia de Covid-19.
Em informações exclusivas repassadas à Agência Brasil, o Departamento de Meio Circulante do BC informa que o percentual de papel-moeda em circulação subiu de cerca de 2% em meados dos anos 1990 para um valor ligeiramente abaixo de 4% em 2007.
A proporção manteve-se ao redor desse nível até 2019, disparando para 5% do PIB em 2020, com a criação do auxílio emergencial durante a pandemia.
Segundo o BC, após a pandemia de Covid-19, o valor de cédulas e de moedas em circulação tem se mantido estável em torno de R$ 345 bilhões, com a proporção em relação ao PIB caindo.
“Apesar do surgimento de novos meios de pagamento, como o PIX, para apresentar impactos sobre os hábitos de uso dos meios de pagamento anteriormente existentes será necessário algum tempo, a fim de que a evolução desses impactos possa ser claramente mapeada”, informou o Departamento de Meio Circulante em nota.
Em maio, o PIX movimentou R$ 2,137 trilhões, o equivalente a 19,26% do PIB.
A quantia e o percentual, no entanto, não podem ser diretamente comparados com os 3,13% do PIB em cédulas e em moedas.
Isso porque o Banco Central mede o valor de todas as transações eletrônicas, enquanto o dinheiro físico é calculado com base no estoque fora dos bancos, sem considerar as movimentações.
Segundo BC, o sistema de transferências instantâneas, que funciona 24 horas por dia, tem favorecido a inclusão financeira da população.
Conforme dados da Gerência de Gestão e Operação do PIX, ao considerar transações até dezembro de 2022, mais de 71,5 milhões de pessoas que não faziam transferências eletrônicas antes do PIX passaram a fazer esse tipo de operação.
Em relação às faixas de renda, o sistema é usado por pessoas de todos os estratos financeiros.
Conforme a edição mais recente do Relatório de Gestão do PIX, possuem pelo menos uma chave PIX 71% das pessoas com um salário mínimo, 85% entre um e dois salários mínimos, 86% das pessoas de dois a cinco salários mínimos, 90% entre cinco e dez salários mínimos e 89% a partir de dez salários mínimos.
O principal fator de resistência ao PIX e de preferência pelo papel-moeda e pelo cartão de plástico, no entanto, é a idade. Segundo o mesmo relatório, 93% das pessoas de 20 a 29 anos possuem uma chave.
A proporção permanece em níveis semelhantes nas demais faixas etárias: 91% de 30 a 39 anos e 92% de 40 a 49 anos.
Nas faixas seguintes, o percentual cai: 79% de 50 a 59 anos e apenas 55% na faixa acima de 60 anos.
Frequentadora da Feira do Largo do Machado, a aposentada Marina de Souza, 80 anos, personifica a reticência com o PIX, preferindo cartões e dinheiro físico.
“Não pago com PIX. Não gosto. Pago mais com cartão de débito, menos na Feira, onde só uso dinheiro porque eles anotam uma coisa, a gente se distrai, e eles cobram outra. Então tenho sempre aquele dinheirinho sacado, que fica reservado para a Feira. As outras compras, só com cartão”, justifica.
“Ainda estou na fase do dinheiro e do cartão. Não sou muito de PIX ainda não. Tenho [uma chave], mas não aderi muito. Estou sempre com o dinheirinho para pagar as contas”, diz a dona de casa Hilda Pereira, 65 anos, também consumidora da Feira do Largo do Machado.
Segundo o BC, parte da decisão de criar as modalidades de PIX saque e de PIX troco, onde o consumidor transfere um valor por PIX a um comércio e saca a diferença em espécie, deve-se à predileção pelo papel-moeda por parte da população.
Conforme a autoridade monetária, a preferência é maior em municípios do interior com pouca cobertura bancária.
“A possibilidade de sacar dinheiro usando o PIX teve como objetivo propiciar melhores condições de oferta do serviço à sociedade, principalmente em regiões em que a cobertura da rede bancária é insuficiente. Parte da população brasileira ainda tem hábito de uso do dinheiro em espécie e carecia de uma rede adequada”, explicou o Banco Central em nota à Agência Brasil.
Professora de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Virene Matesco diz que a preferência pelo papel-moeda é desigual conforme a região do país.
“Temos um país extremamente heterogêneo. Quero saber se nesse interiorzão do país alguém fala de PIX. Porque muita gente não tem celular moderno”, constata.
Segundo ela, o maior avanço de transferências eletrônicas como o PIX, e futuramente o DREX (versão digital do Real), está na redução de custos de transação e no aumento da velocidade de circulação da moeda.
Virene, no entanto, admite que o avanço dos sistemas eletrônicos de pagamento tem um risco associado: a ampliação da tendência de o cidadão endividar-se.
“A velocidade da circulação aumenta violentamente, assim como a capacidade de o correntista entrar no vermelho. O problema piora com as apostas virtuais de joguinhos online. A tecnologia beneficia muita gente, mas também traz perigos”, adverte.
Foto: Marcello Casal Júnior
Agência Brasil de Comunicação
www.agenciabrasil.ebc.gov.br
Brasília/DF - Na Feira do Largo do Machado, na zona sul do Rio de Janeiro/RJ, o pagamento eletrônico não é unanimidade.
Com medo de taxas de maquininhas de cartão ou sem tempo para tirar o celular do bolso e abrir o aplicativo do PIX, há consumidores que ainda preferem pagar as compras com cédulas e moedas, apesar do avanço de meios eletrônicos de pagamento.
“Tenho usado muito [cartão de] débito e PIX, mas hoje terei de sacar dinheiro no banco. A mulher botou um real em cima dos limões que comprei porque o preço aumentou R$ 1 por causa da taxa de cartão”, diz a servidora pública Renata Moreira, 47 anos.
“Há lugares estratégicos em que vou com dinheiro, cédula. Às vezes, o PIX dá trabalho porque tem de tirar o telefone da bolsa [em lugares de risco] e tem de ter acesso à internet”, completa.
Segundo o BC (Banco Central), a circulação de papel-moeda persiste em 30 anos de criação do real.
Na última sexta-feira (28/06), conforme as estatísticas mais atualizadas da autoridade monetária, existiam R$ 347,331 bilhões de cédulas e de moedas em circulação na economia, o equivalente a 3,13% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país).
A proporção está diminuindo após a pandemia de Covid-19.
Em informações exclusivas repassadas à Agência Brasil, o Departamento de Meio Circulante do BC informa que o percentual de papel-moeda em circulação subiu de cerca de 2% em meados dos anos 1990 para um valor ligeiramente abaixo de 4% em 2007.
A proporção manteve-se ao redor desse nível até 2019, disparando para 5% do PIB em 2020, com a criação do auxílio emergencial durante a pandemia.
Segundo o BC, após a pandemia de Covid-19, o valor de cédulas e de moedas em circulação tem se mantido estável em torno de R$ 345 bilhões, com a proporção em relação ao PIB caindo.
“Apesar do surgimento de novos meios de pagamento, como o PIX, para apresentar impactos sobre os hábitos de uso dos meios de pagamento anteriormente existentes será necessário algum tempo, a fim de que a evolução desses impactos possa ser claramente mapeada”, informou o Departamento de Meio Circulante em nota.
Em maio, o PIX movimentou R$ 2,137 trilhões, o equivalente a 19,26% do PIB.
A quantia e o percentual, no entanto, não podem ser diretamente comparados com os 3,13% do PIB em cédulas e em moedas.
Isso porque o Banco Central mede o valor de todas as transações eletrônicas, enquanto o dinheiro físico é calculado com base no estoque fora dos bancos, sem considerar as movimentações.
Segundo BC, o sistema de transferências instantâneas, que funciona 24 horas por dia, tem favorecido a inclusão financeira da população.
Conforme dados da Gerência de Gestão e Operação do PIX, ao considerar transações até dezembro de 2022, mais de 71,5 milhões de pessoas que não faziam transferências eletrônicas antes do PIX passaram a fazer esse tipo de operação.
Em relação às faixas de renda, o sistema é usado por pessoas de todos os estratos financeiros.
Conforme a edição mais recente do Relatório de Gestão do PIX, possuem pelo menos uma chave PIX 71% das pessoas com um salário mínimo, 85% entre um e dois salários mínimos, 86% das pessoas de dois a cinco salários mínimos, 90% entre cinco e dez salários mínimos e 89% a partir de dez salários mínimos.
O principal fator de resistência ao PIX e de preferência pelo papel-moeda e pelo cartão de plástico, no entanto, é a idade. Segundo o mesmo relatório, 93% das pessoas de 20 a 29 anos possuem uma chave.
A proporção permanece em níveis semelhantes nas demais faixas etárias: 91% de 30 a 39 anos e 92% de 40 a 49 anos.
Nas faixas seguintes, o percentual cai: 79% de 50 a 59 anos e apenas 55% na faixa acima de 60 anos.
Frequentadora da Feira do Largo do Machado, a aposentada Marina de Souza, 80 anos, personifica a reticência com o PIX, preferindo cartões e dinheiro físico.
“Não pago com PIX. Não gosto. Pago mais com cartão de débito, menos na Feira, onde só uso dinheiro porque eles anotam uma coisa, a gente se distrai, e eles cobram outra. Então tenho sempre aquele dinheirinho sacado, que fica reservado para a Feira. As outras compras, só com cartão”, justifica.
“Ainda estou na fase do dinheiro e do cartão. Não sou muito de PIX ainda não. Tenho [uma chave], mas não aderi muito. Estou sempre com o dinheirinho para pagar as contas”, diz a dona de casa Hilda Pereira, 65 anos, também consumidora da Feira do Largo do Machado.
Segundo o BC, parte da decisão de criar as modalidades de PIX saque e de PIX troco, onde o consumidor transfere um valor por PIX a um comércio e saca a diferença em espécie, deve-se à predileção pelo papel-moeda por parte da população.
Conforme a autoridade monetária, a preferência é maior em municípios do interior com pouca cobertura bancária.
“A possibilidade de sacar dinheiro usando o PIX teve como objetivo propiciar melhores condições de oferta do serviço à sociedade, principalmente em regiões em que a cobertura da rede bancária é insuficiente. Parte da população brasileira ainda tem hábito de uso do dinheiro em espécie e carecia de uma rede adequada”, explicou o Banco Central em nota à Agência Brasil.
Professora de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), Virene Matesco diz que a preferência pelo papel-moeda é desigual conforme a região do país.
“Temos um país extremamente heterogêneo. Quero saber se nesse interiorzão do país alguém fala de PIX. Porque muita gente não tem celular moderno”, constata.
Segundo ela, o maior avanço de transferências eletrônicas como o PIX, e futuramente o DREX (versão digital do Real), está na redução de custos de transação e no aumento da velocidade de circulação da moeda.
Virene, no entanto, admite que o avanço dos sistemas eletrônicos de pagamento tem um risco associado: a ampliação da tendência de o cidadão endividar-se.
“A velocidade da circulação aumenta violentamente, assim como a capacidade de o correntista entrar no vermelho. O problema piora com as apostas virtuais de joguinhos online. A tecnologia beneficia muita gente, mas também traz perigos”, adverte.
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