Crise de intoxicação por metanol completa um mês com alerta para falsificação de bebidas

Guilherme Jeronymo
Agência Brasil de Comunicação
www.agenciabrasil.ebc.gov.br
Foto: Agência São Paulo
São Paulo/SP - Após 30 dias desde que os primeiros 9 casos de suspeita de intoxicação por presença de metanol em bebidas foram divulgados, em 26 de Setembro, várias medidas foram tomadas pelos órgãos públicos.

A testagem ficou mais rápida, confirmando ou descartando casos suspeitos em ritmo intenso.

Hospitais Pólos foram organizados, mesmo fora das áreas com confirmação de contaminação, como em Estados das regiões Norte e Centro-Oeste.

Os Ciatox (Centros de Informação e Assitência Toxicológica), primeira rede de alerta, assumiram a frente na detecção, enquanto a Vigilância Sanitária e as polícias atuaram nos locais de venda e consumo.

Mesmo sem conseguir impedir todos os novos casos, se encontrou uma origem provável: a falsificação de bebidas levou à contaminação pois usou álcool combustível, que por sua vez também estava adulterado e continha metanol.

Dos casos divulgados inicialmente pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, após um alerta do Ciatox de Campinas/SP, até a revelação dos postos no ABC paulista que venderam o combustível adulterado foram 20 dias. Suficiente para 58 casos de contaminação e 15 mortes, a maioria no Estado de São Paulo.

Ainda não há confirmação se os casos em outros Estados, principalmente Paraná e Pernambuco, envolvem também produtos falsificados na região metropolitana de São Paulo.

Ainda em 26 de setembro o Ciatox já atribuía os casos à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, e a mais de um tipo de bebida destilada.

Os casos eram então considerados "fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol".

Mesmo com esse alerta inicial, o consumo não foi afetado de imediato e o caso só tomou espaço na mídia durante a semana seguinte, quando os Estados começaram a mobilizar Vigilâncias Sanitárias, Procons e policias.

As ações foram integradas em 07 de Outubro, quando o Governo Federal criou um Comitê para lidar com o problema.

No mesmo dia foi anunciada a segunda remessa de etanol farmacêutico aos Hospitais Pólos e a aquisição de outro antídoto, o composto fomepizol.

As ações buscavam reverter o aumento de quadros e permitir a atuação rápida das equipes de emergência.

Na mesma semana, no dia 08 de Outubro, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou que o metanol encontrado em garrafas contaminadas examinadas foi adicionado, pois sua concentração era anormal e muito acima da encontrada em processos de destilação natural.

No dia seguinte a Polícia Técnico-Científica de São Paulo iniciou a adoção de um novo protocolo de identificação de bebidas adulteradas, diminuindo o tempo de análise, enquanto as equipes de fiscalização traziam cada vez mais vasilhames das autuações.

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O Estado conta com 2 centros de excelência, o Ciatox de Campinas/SP e o Latof (Laboratório de Toxicologia Analítica Forense da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto/SP.

A atuação integrada permitiu respostas mais rápidas dos laboratórios estaduais e diminuiu o impacto no comércio, que teve diminuição de até 5% do consumo somente em Setembro, segundo a Abrasel, Associação patronal do setor de bares e restaurantes.

Vinte e um dias após o primeiro alerta, em 17 de Outubro, uma operação da Polícia Civil de São Paulo encontrou os 2 postos de onde saiu o combustível com metanol, acompanhando um caso de um homem que havia consumido a bebida falsificada e está até então internado em Estado grave no bairro da Saúde, Zona Sul da capital paulista.

Os policiais haviam encontrado, dias antes, a distribuidora de bebidas onde eram envasados os produtos falsos.

“O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, disse então o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian.

As investigações ainda continuam. Neste meio tempo as Universidade trabalharam e entregaram soluções rápidas, como o "nariz eletrônico" desenvolvido por pesquisadores do Centro de Informática da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que consegue identificar a presença de metanol em bebidas alcoólicas.

Basta uma única gota da bebida para o equipamento reconhecer odores estranhos em relação à bebida original.
"O nariz eletrônico transforma aromas em dados. Esses dados alimentam a inteligência artificial que aprende a reconhecer a assinatura do cheiro de cada amostra", explicou à Agência Brasil o professor Leandro Almeida, do Centro de Informática.

No último boletim divulgado, na sexta-feira (24/10), foram confirmados 58 casos e 50 estavam em investigação. Até então foram descartadas 635 notificações.

O registro de mortes chegou a 15, sendo 9 em São Paulo, 3 no Paraná e 3 em Pernambuco. Mais 9 mortes seguiam em investigação: 4 em Pernambuco, 2 no Paraná, 1 em Minas Gerais, 1 em Mato Grosso do Sul e 1 em São Paulo.

Foram descartadas 32 notificações de óbitos que estavam sob investigação.

O tema tem fomentado ações também do Poder Legislativo. Na capital paulista, uma CPI iniciará seus trabalho nesta terça-feira (28/10), ouvindo autoridades estaduais sobre os esforços de combate à falsificação de bebidas.

Na Câmara dos Deputados, pode entrar em votação essa semana o PL (Projeto de Lei) 2307/07, que torna crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas.

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