Teófilo Benarrós de Mesquita
Manaus/AM - Eu me lembro perfeitamente de tudo do dia 11 de dezembro de 1993.
Desde a manhã quando acordamos, até o anúncio da tua chegada.
Cada detalhe.
Pela manhã fomos eu e sua Mãe, nossa saudosa Carla Alessandra, comprar o berço e os móveis do quarto, na TV Lar da Avenida Noel Nutles, onde depois funcionou por longos anos uma agência do Bradesco.
Eu sempre gostei de comprar na TV Lar. Desde os móveis do casamento, com um vendedor chamado Vieira que depois descobrimos ser nosso vizinho no Núcleo 24 da Cidade Nova.
Depois, a parada estratégica na Rua Buriti.
A Carla comeu uma manga. E aí “deu muito pano para manga”.
Momentos depois, ela começou a ter sinal de parto.
Entretanto, na noite anterior, portanto horas antes, na consulta ginecológica, a Carla, “mãe de primeira viagem” perguntou à médica como ela saberia quando seria o momento do parto.
Após as devidas explicações, foi marcado o retorno: dia 17 de dezembro de 1993. “Ainda vai custar um pouquinho”, disse a ginecologista.
Acontece que os sinais que a Carla descrevia batiam exatamente com todas as explicações da médica, que além de marcar o retorno da consulta, ainda garantira que “iria custar um pouquinho” até o nascimento da Scarlett Syssi.
A mim parecia “psicologia reversa”, termo que eu sequer sabia o significado em 1993 e na verdade não sei até os dias atuais.
"Ah, ela está sentindo tudo que a médica disse antes de confirmar nosso retorno para o dia 17", pensava eu.
Por isso eu estava tranquilo.
Ao contrário do outro Teófilo da Rua Buriti, o saudoso Mesquita Neto, também “marinheiro de primeira viagem” quando o assunto dizia respeito a ser avô, a ver nascer os filhos dos filhos.
Nervoso e pronto para levar a Carla para a Maternidade, me deu um ultimato: “se tu não tomar logo uma providência, levo ela para a Unimed sem tua presença mesmo”.
De impulso, deu vontade de argumentar: “mas Pai, ela estava boazinha há alguns minutos, comprando o berço. De repente passou a relatar tudo que a médica disse que ela sentiria na hora do parto...”
Porém, apesar de jovem (24 anos), já conhecia bastante a maneira do meu Pai falar. Sabia que se eu não cuidasse logo...
Levantei da cama, deixei a água do chuveiro cair pelo corpo e sai pela porta vestindo as calças e colocando a alpercata como quem está fugindo de casa.
Quase eu fico mesmo.
Entrei no carro com o veículo em movimento, algo inadimissível na cabeça do Papai (quem o conheceu sabe o que falo/escrevo).
Na Unimed, o primeiro diagnóstico, para eu, tolinho, me encher de razão: “apenas dois centímetros de dilatação... Tem que esperar”.
A Carla ficou logo “lá dentro”, não voltou mais comigo para a recepção.
Como diziam na época [não sei se o termo ainda existe], ficou matando barata... Não conhece? Pesquise. Ou pergunte aos mais velhos.
Diante da demora, fui aconselhado na recepção a avisar outros familiares, do sexo feminino.
Os acompanhantes eram os Teófilos – eu e meu Pai.
Pedi autorização da atendente para ligar para a Dona Sueli, Mãe da Carla, avisando sobre o que estava ocorrendo e pedir que se dirigisse à Unimed com algumas coisas para completar o enxoval.
“Não pode usar esse telefone. É de uso exclusivo da hospital para emergências, para fazer contato com os médicos. Não pode ser ocupado por pacientes”, recebi como resposta.
Saí à procura de um orelhão [Não sabe o que é isso? Pesquise. Ou pergunte aos mais velhos].
Andei até o Terminal I, da Constantino Nery. Encontrei o orelhão, liguei para a Dona Sueli e passei o aviso.
No retorno ao hospital, ao colocar os pés de novo na recepção, a primeira coisa que eu vejo, perto das portas do banheiro é.... UM ORELHÃO.
Ainda sem saber direito com agir, pedi autorização da recepcionista para falar com a Carla, avisar que a Mãe dela estaria a caminho em breve.
Foi solicitado que eu aguardasse autorização.
A resposta foi um muro no estômago: “ela já está em trabalho de parto; não há mais como ter acesso”. Foi aí que eu descobri o significado de “ficar matando barata”.
Não era como nós tínhamos planejado. O plano era ficarmos juntos, até o momento dela entrar na sala de parto. Fiquei imaginando como ela estava se sentindo...
Daí a pouco, familiares começam a chegar na recepção da Unimed. Chegavam todos, menos a médica.
Depois, só depois, eu soube, que avisada “por telefone” da “tal manga”, a médica estava esperando passar o tempo necessário para realizar o parto, após o devido período de jejum.
Com o arrastar dos minutos, que viraram horas, a expectativa por informações que não chegavam só crescia. A ponto de se tornar angústia.
Em tempos que não existiam celulares, ter alguém conhecido no plantão valia ouro. Não era o nosso caso.
Passava das 23 horas... E nada...
De repente, a médica colocou a cabeça para fora da porta dupla de mover. Vi que ela procurava alguém.
Me levantei da cadeira vermelha, de plástico endurecido (lembram?).
A médica me avistou, sorriu e anunciou: “nasceu”.
Foi aquele alvoroço.
A Família em peso comemorou como se fosse um gol.
Na verdade foi um gol sim. Um GOLAÇO !!!
Muito mais importante do que o salto que o Müller deu em Tóquio, para escapar de um choque com o goleiro Rossi, do Milan da Itália.
No salto, a bola tocou o calcanhar do jogador e entrou mansamente, decretando a vitória do São Paulo sobre o Milan por 3-2, garantindo a conquista do Campeonato Mundial.
Na porta da Unimed a procura da médica encontrou-me, anunciando: “nasceu”
Os dois momentos foram sincronizados.
A bola entrando mansamente; a palavra dita à Família.
Nos céus de Manaus/AM (onde ainda era dia 11 de dezembro), os fogos saudavam a chegada da Scarlett Syssi Caldas de Mesquita.
Filha mais velha de Teófilo e Carla Alessandra (in memorian); Neta de Ledice e Teófilo (in memoriam), Sueli e Francisco Caldas (in memorian); Irmã mais velha do Raul Carlos; Mãe da Maria Cecília e do Antônio.
Te Amo, Scarlett Syssi.
Manaus/AM - Eu me lembro perfeitamente de tudo do dia 11 de dezembro de 1993.
Desde a manhã quando acordamos, até o anúncio da tua chegada.
Cada detalhe.
Pela manhã fomos eu e sua Mãe, nossa saudosa Carla Alessandra, comprar o berço e os móveis do quarto, na TV Lar da Avenida Noel Nutles, onde depois funcionou por longos anos uma agência do Bradesco.
Eu sempre gostei de comprar na TV Lar. Desde os móveis do casamento, com um vendedor chamado Vieira que depois descobrimos ser nosso vizinho no Núcleo 24 da Cidade Nova.
Depois, a parada estratégica na Rua Buriti.
A Carla comeu uma manga. E aí “deu muito pano para manga”.
Momentos depois, ela começou a ter sinal de parto.
Entretanto, na noite anterior, portanto horas antes, na consulta ginecológica, a Carla, “mãe de primeira viagem” perguntou à médica como ela saberia quando seria o momento do parto.
Após as devidas explicações, foi marcado o retorno: dia 17 de dezembro de 1993. “Ainda vai custar um pouquinho”, disse a ginecologista.
Acontece que os sinais que a Carla descrevia batiam exatamente com todas as explicações da médica, que além de marcar o retorno da consulta, ainda garantira que “iria custar um pouquinho” até o nascimento da Scarlett Syssi.
A mim parecia “psicologia reversa”, termo que eu sequer sabia o significado em 1993 e na verdade não sei até os dias atuais.
"Ah, ela está sentindo tudo que a médica disse antes de confirmar nosso retorno para o dia 17", pensava eu.
Por isso eu estava tranquilo.
Ao contrário do outro Teófilo da Rua Buriti, o saudoso Mesquita Neto, também “marinheiro de primeira viagem” quando o assunto dizia respeito a ser avô, a ver nascer os filhos dos filhos.
Nervoso e pronto para levar a Carla para a Maternidade, me deu um ultimato: “se tu não tomar logo uma providência, levo ela para a Unimed sem tua presença mesmo”.
De impulso, deu vontade de argumentar: “mas Pai, ela estava boazinha há alguns minutos, comprando o berço. De repente passou a relatar tudo que a médica disse que ela sentiria na hora do parto...”
Porém, apesar de jovem (24 anos), já conhecia bastante a maneira do meu Pai falar. Sabia que se eu não cuidasse logo...
Levantei da cama, deixei a água do chuveiro cair pelo corpo e sai pela porta vestindo as calças e colocando a alpercata como quem está fugindo de casa.
Quase eu fico mesmo.
Entrei no carro com o veículo em movimento, algo inadimissível na cabeça do Papai (quem o conheceu sabe o que falo/escrevo).
Na Unimed, o primeiro diagnóstico, para eu, tolinho, me encher de razão: “apenas dois centímetros de dilatação... Tem que esperar”.
A Carla ficou logo “lá dentro”, não voltou mais comigo para a recepção.
Como diziam na época [não sei se o termo ainda existe], ficou matando barata... Não conhece? Pesquise. Ou pergunte aos mais velhos.
Diante da demora, fui aconselhado na recepção a avisar outros familiares, do sexo feminino.
Os acompanhantes eram os Teófilos – eu e meu Pai.
Pedi autorização da atendente para ligar para a Dona Sueli, Mãe da Carla, avisando sobre o que estava ocorrendo e pedir que se dirigisse à Unimed com algumas coisas para completar o enxoval.
“Não pode usar esse telefone. É de uso exclusivo da hospital para emergências, para fazer contato com os médicos. Não pode ser ocupado por pacientes”, recebi como resposta.
Saí à procura de um orelhão [Não sabe o que é isso? Pesquise. Ou pergunte aos mais velhos].
Andei até o Terminal I, da Constantino Nery. Encontrei o orelhão, liguei para a Dona Sueli e passei o aviso.
No retorno ao hospital, ao colocar os pés de novo na recepção, a primeira coisa que eu vejo, perto das portas do banheiro é.... UM ORELHÃO.
Ainda sem saber direito com agir, pedi autorização da recepcionista para falar com a Carla, avisar que a Mãe dela estaria a caminho em breve.
Foi solicitado que eu aguardasse autorização.
A resposta foi um muro no estômago: “ela já está em trabalho de parto; não há mais como ter acesso”. Foi aí que eu descobri o significado de “ficar matando barata”.
Não era como nós tínhamos planejado. O plano era ficarmos juntos, até o momento dela entrar na sala de parto. Fiquei imaginando como ela estava se sentindo...
Daí a pouco, familiares começam a chegar na recepção da Unimed. Chegavam todos, menos a médica.
Depois, só depois, eu soube, que avisada “por telefone” da “tal manga”, a médica estava esperando passar o tempo necessário para realizar o parto, após o devido período de jejum.
Com o arrastar dos minutos, que viraram horas, a expectativa por informações que não chegavam só crescia. A ponto de se tornar angústia.
Em tempos que não existiam celulares, ter alguém conhecido no plantão valia ouro. Não era o nosso caso.
Passava das 23 horas... E nada...
De repente, a médica colocou a cabeça para fora da porta dupla de mover. Vi que ela procurava alguém.
Me levantei da cadeira vermelha, de plástico endurecido (lembram?).
A médica me avistou, sorriu e anunciou: “nasceu”.
Foi aquele alvoroço.
A Família em peso comemorou como se fosse um gol.
Na verdade foi um gol sim. Um GOLAÇO !!!
Muito mais importante do que o salto que o Müller deu em Tóquio, para escapar de um choque com o goleiro Rossi, do Milan da Itália.
No salto, a bola tocou o calcanhar do jogador e entrou mansamente, decretando a vitória do São Paulo sobre o Milan por 3-2, garantindo a conquista do Campeonato Mundial.
Na porta da Unimed a procura da médica encontrou-me, anunciando: “nasceu”
Os dois momentos foram sincronizados.
A bola entrando mansamente; a palavra dita à Família.
Nos céus de Manaus/AM (onde ainda era dia 11 de dezembro), os fogos saudavam a chegada da Scarlett Syssi Caldas de Mesquita.
Filha mais velha de Teófilo e Carla Alessandra (in memorian); Neta de Ledice e Teófilo (in memoriam), Sueli e Francisco Caldas (in memorian); Irmã mais velha do Raul Carlos; Mãe da Maria Cecília e do Antônio.
Te Amo, Filha.
Obrigado por tudo, ao longo dos anos.
Muito orgulho de toda tua jornada.
Te Amo, Scarlett Syssi.
Que lindo, pai... obrigada! Te amo ❤
ResponderExcluirLindo amei 😻
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