Diploma de Ensino Superior pode turbinar o salário em até duas vezes

Mariana Tokarnia
Foto: Rovena Rosa
Agência Brasil de Comunicação
www.agenciabrasil.ebc.gov.br
Rio de Janeiro/RJ - No Brasil, ter um diploma de Ensino Superior faz diferença: aumenta as chances de ter um emprego e melhores salários, que chegam a mais que o dobro daqueles que têm formação até o Ensino Nédio. Mesmo assim, um em cada quatro estudantes abandona os estudos depois de cursar apenas um ano.

As informações estão no Relatório Education at a Glance 2025, da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne as principais e mais ricas economias do mundo.

O documento traz dados educacionais como desempenho dos estudantes, taxas de matrícula e organização dos sistemas educacionais dos 38 países-membros da organização, além de Argentina, Bulgária, China, Croácia, Índia, Indonésia, Peru, Romênia, Arábia Saudita, África do Sul e Brasil – que é parceiro-chave da OCDE.

Neste ano, o relatório tem como foco principal o Ensino Superior.

Os dados mostram que brasileiros de 25 a 64 anos que concluem o Ensino Superior ganham, em média, 148% a mais do que aqueles que têm Ensino Médio.

Essa diferença é maior do que a média dos países da OCDE, que é de um salário médio 54% maior.

O Brasil fica atrás apenas da Colômbia, onde concluir o Ensino Superior proporciona, em média, um salário 150% maior do que ter apenas o Ensino Médio, e África do Sul, onde esse percentual é 251%.

Mas, essa etapa de ensino não chega a todos.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas um a cada cinco, ou seja, 20,5% dos brasileiros de 25 anos ou mais têm Ensino Superior, conforme dados de 2024.

O relatório da OCDE traz outra preocupação. Quase um quarto (24%) dos jovens de 18 a 24 anos no Brasil, não estão empregados nem em educação ou treinamento (NEET na sigla em inglês).

Essa taxa é maior que a média da OCDE, de 14%.

Além disso, há uma diferença entre homens e mulheres, com 29% das mulheres e 19% dos homens sendo NEET em 2024 no Brasil.

As taxas de NEET para homens e mulheres tendem a ser semelhantes na maioria dos outros países da Organização.

Entre aqueles que entram no Ensino Superior, no Brasil, 25% abandonam os estudos após o primeiro ano do Bacharelado.

Entre os países da OCDE, a média é 13%.

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Mesmo após três anos do fim do período esperado para a conclusão do curso, menos da metade, 49%, dos ingressantes conclui os estudos. Entre os países da OCDE, essa média é 70%.

Diante desse cenário, no Brasil, apenas 24% de todos os jovens de 25 a 34 anos de fato concluem o Ensino Superior, o que representa pouco menos da metade da média da OCDE de 49%.

Segundo o Relatório, as altas taxas de evasão no primeiro ano “podem sinalizar um descompasso entre as expectativas dos alunos e o conteúdo ou as exigências de seus programas, possivelmente refletindo a falta de orientação profissional para futuros alunos ou apoio insuficiente para novos ingressantes”, diz o texto.

O Relatório mostra ainda que, em todos os países, as mulheres que iniciam o Bacharelado têm maior probabilidade do que os homens de concluir os estudos ou no tempo esperado ou em até três anos após esse período.

No Brasil, a diferença de gênero é de 9 pontos percentuais, 53% para mulheres em comparação com 43% para homens. Essa diferença é menor do que a média da OCDE, de 12 pontos percentuais.

Segundo o Relatório Education at a Glance 2025, entre os países da OCDE, a mobilidade internacional de estudantes no Ensino Superior aumentou.

Em média, 6% de todos os estudantes do Ensino Superior na OCDE eram estudantes internacionais ou estrangeiros em 2018. Esse percentual passou para 7,4% em 2023.

O Brasil foi um dos poucos países sem aumento, com a proporção permanecendo constante em apenas 0,2%.

Em relação aos investimentos do país em Ensino Superior, no Brasil os gastos governamentais chegam a US$ 3.765 por aluno, em valores de 2022, o que equivale a cerca de R$ 20 mil.

Já a média da OCDE é de US$ 15.102, ou cerca de R$ 80 mil.

INVESTIMENTO

Embora, em valores, o investimento seja inferior, quando comparado ao PIB (Produto Interno Bruto) – que é a soma de todas as riquezas produzidas pelo país -, o investimento governamental no Brasil é semelhante ao da média da OCDE, 0,9% do PIB- Produto Interno Bruto - no Ensino Superior, incluindo os investimentos em pesquisa e inovação.

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Para a OCDE, é preciso melhorar os indicadores não apenas no Brasil, mas em todo o conjunto de países, para que tanto a formação seja melhor, quanto para que os investimentos tenham mais retorno.

Na publicação, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, diz que as baixas taxas de conclusão do Ensino Superior são "desafio que prejudica o retorno do investimento público, agrava a escassez de competências e limita o acesso a oportunidades”.

Entre as ações possíveis destacadas por ele estão o fortalecimento da preparação acadêmica e da orientação profissional no ensino médio, bem como a concepção de programas de Ensino Superior com sequências de cursos claramente definidas e medidas de apoio para aqueles em risco de atraso.

“Também são necessárias opções de Ensino Superior mais inclusivas e flexíveis. Estas devem incluir programas personalizados para estudantes do ensino profissional, processos de admissão que reconheçam melhor os diversos perfis de alunos e ofertas mais curtas e direcionadas”, defende.

A OCDE também chama a atenção para a qualidade dos cursos de Ensino Superior. Outra pesquisa conduzida pela Organização mostra que mesmo entre aqueles com diploma, há dificuldades até mesmo para ler textos complexos.

A Pesquisa de Competências de Adultos 2023 mostra que nos 29 países e economias da OCDE participantes, em média 13% dos adultos com Ensino Superior não atingiram sequer o nível básico de proficiência em alfabetização, o que significa que conseguiam compreender apenas textos curtos sobre temas familiares.

“Isso ilustra a necessidade de os países expandirem o acesso ao Ensino Superior e aumentarem a qualidade e a relevância da educação oferecida”, diz Cormann.

Em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (09/09), o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) afirmou que os valores de investimento apresentados no relatório estão incorretos e que a autarquia já solicitou uma revisão à OCDE.

O valor correto do gasto público por aluno de instituições públicas de Ensino Superior é US$ 15.619 (cerca de R$ 83 mil), sendo, portanto, superior à média da OCDE.

De acordo como Inep, o cálculo feito pela OCDE divide todo o investimento público por todos os alunos do Ensino Superior, sejam eles de instituições públicas ou privadas.

O Governo Federal, no entanto, não computa os investimentos privados. O correto, segundo o Inep, é dividir os investimentos públicos apenas pelos alunos de Universidades Públicas.

No Brasil, a minoria dos alunos de Ensino Superior está em instituições públicas.

A maior parte dos estudantes está matriculada no setor privado, que concentra cerca de 80% das matrículas, segundo o último Censo da Educação Superior, de 2023.

Os gastos com esses alunos não está, portanto, incluído no valor informado pelo Inep.

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